Chega de mansinho, sem fazer barulho!
Ninguém o ouve, ninguem o vê, mas todos sabem que ele virá!
Gosta de ser bem acolhido, por isso a mesa tem que estar posta e repleta de doces iguarias.
Há que afirme com certeza que ele gosta de leite frio e bolachas, mas eu vou contar-vos um segredo... aqui em casa, do que ele realmente gosta é de uma boa "bufa", quentinha, perfumada pela canela e emborrachada de vinho muito docinho. Aquece-lhe a alma e dá-lhe força para o resto do caminho.
Esta é uma receita de familia, de muitas familias!
Aqui no Alto Minho, especialmente na zona do vale do rio Minho (Caminha, Cerveira, Valença) é muito apreciada e está presente na mesa de consoada.
A primeira vez que comi "bufas" foram feitas pela minha sogra, cheguei a ver como ela as fazia. Só que era tudo feito "a olho", sem peso , nem medidas. Esfarelava-se o pão duro, uma grande semea, que as padarias fabricam (a par com os cacetes) especialemente para o efeito. Depois juntavam-se os ovos, primeiro sem cuidado e de seguida um de cada vez, até que a massa tivesse a consistencia certa.
A minha primeira tentativa não correu nada bem, ficaram duras, não ensoparam bem o vinho... um desastre. Durante muito tempo não voltei a fazer, preferia as que ela sempre trazia. Depois que faleceu a minha cunhada Alice tomou a seu cargo fazer as bufas e partilhar connosco.
Este ano uma conterrânea pediu-me a receita e acordou o bichinho! A final as receitas que mais gosto de fazer são as bem antigas e esta é uma delas.
Descobri que está no livro de "Cozinha Tradicional Portuguesa" de Maria de Lurdes Modesto, e testei-a para ver se era igual. É sim e com a grande vantagem de já ter as quantidades descritas.
Ingredientes:
250 g de miolo de pão duro;
5 a 6 ovos;
50 g de açúcar;
1 colher de chá de canela;
oleo para fritar q.b.
Calda
500 ml de vinho verde branco;
250 g de açúcar (gosto de usar do amarelo);
2 paus de canela;
casca de limão.
250 g de açúcar (gosto de usar do amarelo);
2 paus de canela;
casca de limão.
Execução:
Prepara-se a calda levando ao lume todos os ingredientes.
Esfarala-se bem o miolo do pão (tipo semea). Batem-se todos os ingredientes até obter uma massa lisa e com textura mole (tipo massa de bolo). A quantidade de ovos necessários dependo do tipo de pão usado e do tamanho dos ovos.
Fritam-se colheradas de massa, de ambos os lados. Viram-se com a ajuda de 2 colheres.
À medida que vão ficando fritas colocam-se dentro da calda e deixam-se ferver em lume muito brando, até estaram bem "borrachos" (ensopadas).
Vão-se retirando para um recipiente para dar lugar às seguinte.
No final deve-se ter ainda bastante calda. Se for necessário junta-se mais vinho e açucar.
Regam-se com a restante calda.
Alguns "segredos" importantes para um bom resultado:
- O vinho tem que ser de boa qualidade, gosto de usar um loureiro, trajadura misturado com alvarinho, ou até mesmo só alvarinho;
- O pão usado deve ser tipo regional, uma semea com muito miolo é o ideal e tem que estar duro (com no minimo 2 dias). Desta forma é mais fácil de esfarelar, pode até usar-se um robot de cozinha para essa tarefa.
- Prefiro o açucar amarelo, o mais escurinho (RAR), acho que melhora o sabor e a cor da calda fica mais bonita;
- É importante deixar ferver em lume bem brando, evitando a rápida evaporação do vinho e permitindo que as bufas fiquem completamente encharcadas;
- As bufas são servidas dentro da calda, por isso caso reste pouco no final é preciso fazer um pouco mais. Depois servem-se mornas e regadas com a calda.
Desejo a todos os que por cá passam um Natal muito feliz, que seja rodeado por quem amam, cheio de alrgria e doces aromas. Que dele fiquem gratas memórias, memórias que permanecem e podem ser revisitadas ao longo do tempo.
Não conhecia este nome divertido! :-) A nossa gastronomia está cheia de coisas engraçadas. Feliz Natal para ti e para os teus.
ResponderEliminarDesconhecia as bufas (adorei o nome, lol)... Espero q o. Natal tenha sido maravilhoso!
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