Ela
ansiava por se apaixonar. Sonhava em casar cedo, arrebatada por um grande amor.
Eis que a vida lhe prega uma partida e coloca na sua mão uma difícil decisão, a
escolha entre dois pretendentes, em tudo diferentes, um belo e pobre lavrador
ou um lindo e rico fidalgo!
Apelou
à santa da sua devoção por ajuda nesta aflição, a data da resposta
aproximava-se e Mariana não sabia quem amava, não podia escolher!
Só num
momento de aflição, vendo que ambos se enfrentavam com violência pelo seu amor,
dos seus lábios brotou o nome que já, em segredo, habitava no seu coração...
Amaro, humilde de condição.
A
escolha estava feita, mas continuava inquieta, não descansava com receio
de retaliação do ressentido fidalgo. Aconteceu então algo inesperado, um bolo
com ovos e flores apareceu e a reconciliação e amizade prevaleceu!
A lenda do Folar da Páscoa é bem bonita, um bolo que celebra a reconciliação e a amizade. Não precisa de ser Páscoa para o levar à mesa, embora seja nestes dias que ele se torna imprescíndivel.
No rescaldo da Páscoa não quis deixar esta receita sem publicar, gosto imenso de folares, doces e salgados, especialmente estes últimos! Temos uma cultura gastronómica riquíssima, da qual nos devemos orgulhar muito, venho tentando fazer alguns folares e o de Chaves foi o escolhido desta vez.
A receita deste folar veio de Faiões do concelho de Chaves. Vi-o ser confecionado pelas mãos carregadas de sabedoria da D. Noémia! Fiquei completamente encantada ao observar cada gesto, fazendo tudo parecer tão simples. Vocês também podem ir lá ver, basta fazer um CLICK, chegam lá num instante!
O chefe Hernâni Ermida, no seu blogue "A vida com mais sabor" fez uma adaptação da receita original para o forno elétrico, numa dose que pudéssemos fazer em nossas casas. Decidi experimentar, juntei um pouco de farinha integral e tive necessidade de adicionar mais ovos, pois a massa não ficou com a textura que se vê no vídeo.
Apresento a receita tal como a fiz, adaptada à máquina de fazer pão, que executa a 1.ª fase.
Já fiz este folar duas vezes... nem sempre compreendemos porque razão ao fazer a mesma receita temos resultados tão diferentes. Há muitos fatores que podem interferir. A experiência deste folar provou a enorme importância que tem a temperatura do forno da hora de fazer pão. Na 1.ª vez fiz o pré-aquecimento do forno, deixei que atingisse a temperatura desejada e coloquei o folar a cozer. O resultado foi bom, mas depois de entrar no forno não cresceu mais nada. Na vez seguinte, o forno começou a trabalhar cedo, fez alguns doces, um assado e no final entrou o folar. Nem queria acreditar no que vi... cresceu, abriu, uma maravilha! Um resultado bastante diferente, além de maior, o miolo ficou mais macio. A única coisa que mudou foi a temperatura do forno, os ingredientes e o modo de execução foram exatamente iguais.
Agora sempre que fizer um assado, daqueles bem longos, vou ter um pãozinho levedado à espera de entrar no forno no final.
Ingredientes:
400 g de farinha de trigo T65;
100 g de farinha de trigo integral;
5 ovos M;
50 ml de água;
75 ml de azeite;
25 g de banha de porco;
15 g de manteiga;
1 saqueta de fermento de padeiro seco;
sal q.b.
presunto q.b
salpicão q.b.
Execução:
Coloque os ovos de molho em água morna.
Leve a aquecer o azeite com a manteiga e a banha, até que as gorduras sólidas derretam.
Bata ligeiramente os ovos e verta na cuba da máquina de fazer pão.
Adicione o sal.
Junte as gorduras e a água tépidas aos ovos.
Misture as farinhas e sobreponha na cuba.
Finalmente espalhe o fermento sobre a farinha.
Selecione o programa "Massa", que amassa e leveda.
Verifique que a massa cresceu para cerca do triplo do volume. Se for necessário deixe-a dentro da máquina mais algum tempo (com ela desligada).
Espalhe um pouco de farinha na bancada e retire o ar à massa espalmando-a com as mãos.
Forme um disco espalmando a massa, disponha o presunto cortado em pedaços e o chouriço fatiado.
Puxe as margens da massa para o interior, dobre o disco a meio (como vê nas imagens).
Deixe levedar durante 30 minutos a 1 hora, num local aquecido.
Pre-aqueça o forno a 200º C (deixe aquecer bastante, o ideal é cozer o folar no final de fazer um assado).
Introduza o folar no forno e verta um copo de água no fundo para criar vapor.
Deixe cozer durante cerca de 25 minutos.
Arrefeça sobre uma grande.
Já sei que muitos vão dizer que feito do modo tradicional é melhor, porque a máquina acelera a fase de levedar. Eu deixo a massa dentro da máquina no fim do ciclo, já depois de desligada, durante mais algum tempo. Na 2.ª fase de levedar, fica sempre cerca de 1 hora. Desta forma consigo um bom resultado que me satisfaz.
A qualidade dos fumados é também fundamental. Procurem artigos regionais, se possível caseiros, ainda se encontram em feiras e mercados. Ou então marcas que reproduzem receitas e modos de confeção artesanais, como é o caso da marca "Quinta dos Fumeiros", parceiro deste blogue.
Porque o sonho comanda a vida eu continuo a sonhar com um forno a lenha, desses onde antigamente se cozia o pão, o sabor é único e não se consegue reproduzir no forno eletrico ou a gás, ainda que fique bom... não é a mesma coisa!
O interior do folar desta foto foi o da 1.ª tentativa, o segundo não houve tempo para fotos, chegou ainda morno à mesa e... desapareceu num piscar de olhos.
Gosto muito das tuas introduções às receitas que apresentas. Acho um requinte e aprecio mesmo as tuas virtudes literárias. Parabéns o obrigada pelo prazer que me proporcionas.
ResponderEliminarDepois vêm as receitas sempre cheias de aromas e sabores que nos fazem sonhar...
Não conhecia a Lenda do Folar, mas também gosto muito deles, sejam doces ou salgados.
Também não conhecia o de Chaves, mas achei muito interessante a maneira de estender, colocar os enchidos, revirar as pontas e depois dobrar ao meio. Isso torna-o diferente dos mais conhecidos, no caso o Folar de Trás-os Montes. Era este o que a minha avó fazia e parece que ainda tenho presente o gosto e a textura da massa...e já lá vão mais de 45 anos!
Vou levar esta receita e hei-de experimentá-la em breve. Hás-de experimentar substituir o fermento seco por aqueles cubos de fermento fresco que se vendem no supermercado, ao pé da Padaria (nas grandes superfícies). desde que experimentei, não uso mais o seco. As massas expandem muito melhor e ficam muito mais saborosas.
Obrigada pela partilha. Um abraço da Bombom
esse aspeto interior....delicioso.
ResponderEliminarO Cantinho dos Gulosos
Parece ser muito bom! Quentinho, ui, ui!
ResponderEliminarVolto hoje para agradecer a gentileza da tua visita e comentário. Fiquei muito grata.
ResponderEliminarAproveitando a "conversa" do fermento fresco na MFP (máquina de fazer pão - isto é para quem ler e não souber) eu ao princípio também receei, mas desde que testei, não quero outro. Além disso, pode-se congelar e ter sempre à mão (ao descongelar fica mais líquido, mas não tem importância uma vez que é para diluir no leite morno).
Não sei se tens a Tabela de Conversão dos Fermentos de Padeiro - fresco e seco. Se não tiveres podes ver aqui: http://receitasdatiafatima.blogspot.pt/2014/10/tabela-de-equivalencias-para-fermentos.html
Na MFP, quando usamos fermento fresco, o sal é o último ingrediente a colocar.
Primeiro amorna-se o leite (uso o microondas) numa tigela de cerâmica ou pirex (por ser mais saudável). Desfaz-se o cubo de fermento fresco e verte-se na cuba. Derrete-se a manteiga (sem deixar aquecer muito) e junta-se ao leite, seguindo-se os ovos batidos (se for o caso). Se for para pão doce junta-se o açúcar (ou mel) e de seguida a farinha. Por fim coloca-se o sal. Os restantes passos já tu conheces.
Se experimentares, conta como foi. Um grande beijinho da bombom
Muito obrigada Bombom,
EliminarEssa tabela de conversão vai dar muito jeito!
Vou experiementar sim.
Bjs