Embarquei
num dia de sol. O mar estava calmo, no ar corria uma brisa que, como veludo,
acariciava a minha face. O oceano parecia infinito, o horizonte inalcançável e não
havia tempo... ou melhor, havia muito tempo, todo o tempo do mundo!
A maré
subiu, subiu e desceu tantas vezes, esculpiu as praias, fez desenhos na areia, trouxe dias de tempestade e dias de doce calmaria. Certo dia, a brisa que me acompanhava transformou-se num vento forte e tenaz,
que de forma audaz tangeu a velas do meu barco. Dele, elas ficaram prenhas,
volumosas, fazendo o casco rasgar as ondas, vogar a galope, quando eu
apenas queria ir a trote!
Agora o
mar já não é infinito e no horizonte avista-se a margem, não quero chegar lá. Abranda um pouco barco, não quero avançar tão depressa, não quero avistar
à margem, nela está o fim da viagem!
A Páscoa já bate á porta, parece que ainda ontem me despedi do Natal! Não sei o que se passa com o tempo, que agora teima em passar tão depressa! Está sempre apressado, vive numa correria e por mais que eu lhe peça que abrande ele olha-me e ri-se, como criança teimosa, caprichosa e continua a correr levando na boca um sorriso travesso!
Outro ano já passou... vou fazer anos em breve, a soma cresce, cresce, que bom que cresce! Ainda bem que pelo menos a alma não tem idade, não tem tempo, permanece sempre jovem, porque é assim que me sinto, e muitas vezes olho com enorme espanto para a fotos, e já não me revojo nelas... aquela ali sou eu?
Bem que o tempo podia ser generoso e não teimar em me tatuar, confesso que me começa a custar ver como imprime sem piedade as suas marcas.
Ovos moles são uma perdição, gosto imenso! Olho para eles e é como ter um raio de sol na mão e o paraíso na boca!
Na Páscoa celebramos a vida e talvez por isso os ovos estão tão presentes, pois também são portadores de vida. Brilham na mesa e todos os doces lhes prestam homenagem.
Há muito que desejava fazer ovos moles e quando vi à venda, no Cantinho do Doces, estas bolachinhas em forma de barco não lhes resisti. Fiquei muito satisfeita com o resultado, todos elogiaram, o que me parecia ser dificil a final até não é!
Barquinhos de Ovos Moles
Ingredientes:
8 gemas;
300 g de açucar;
60 g de farinha de arroz;
1 copo (170 ml) +150 ml de água;
barquinhos de bolacha q.b.
Execução:
Leve 1 copo de água (usei 170 ml de água) ao lume com o acuçar até fazer ponto espadana (117º C).
Dissolva a farinha de arroz com 150 ml de água fria.
Adicione esta mistura à calda de açucar e leve ao lume a cozer durante 5 minutos.
Retire do lume e deixe arrefercer um pouco.
Quebre as gemas com uma faca, junte uma pequena porção do preparado anterior, morno às gemas.
Misture os dois elementos e leve ao lume novamente até cozer as gemas e engrossar, de forma a obter a espessura desejada. Mexa com movimentos de vai e vem.
Encha os moldes de bolacha e leve alguns minutos ao forno até formar um acrosta ligeiramente dourada.
Notas:
A receita dos ovos moles que apresento é mais uma do livro "Cozinha Tradicional Portuguesa", o meu livro de culinária preferido, aquele a que mais recorro e no qual confio plenamente, porque nunca me deixou ficar mal. Intitula-se "Ovos Moles de Aveiro" e leva um pouco de farinha de arroz. Achei ótimo, porque reduz significativamente a quantidade de gemas. Porém no mesmo livro há uma outra receita, também designada como sendo "Ovos Moles de Aveiro"; leva 30 gemas, 500g de açucar e 300 ml de água. O ponto do açucar é "ponto cabelo" e a execução é semelhente à que apresento, mas sem a farinha de arroz.
A quantidade de água da receita foi a que eu usei, no livro refere 1 copo de água para a calda de açúcar e 1,5 dl de água fria para dissolver a farinha.
Não sei se voltarei com mais receitas antes da Páscoa, por isso quero desde já desejar a todos que seja muito, muito feliz, luminosa, repleta de alegria, partilha e amor.
Obrigada por estarem aqui comigo, por me fazerem companhia. Quero agradecer em especial a todos quantos dedicam um pouco do seu tempo e me deixam um comentário, uma palavra de incentivo e amizade, bem hajam.