quinta-feira, 28 de maio de 2015

Cordial - Xarope de Flor de Sabugueiro

Diziam que ele era milagroso!
Sambucus Nigra tinha fama de ser feiticeiro, capaz de lançar poderosos encantamentos! Também se dizia que sabia fazer mezinhas e poções variadas, uns chamavam-lhe  o "guardião da saúde", e quase o veneravam. Havia aqueles que o maldiziam e acusavam de ser venenoso, altamente perigoso, amigo das bruxas!
Não sei se sabem, mas foi ele que fez uma das varinhas mágicas mais poderosas de todos os tempos... sim, sim a "Elder Wand"! 
Era preciso conhece-lo muito bem para perceber que o seu lado bom superava largamente a sua face mais obscura. Uma coisa é certa quer o amassem ou detestassem, quem o conhecesse não lhe ficava indiferente!
Este era sem dúvida um senhor a quem todos tiravam o chapéu!


Os sabugueiros estão em flor e que lindas são estas minúsculas florzinhas, juntas nas suas umbelas parecem ramos de noiva.
Há muito tempo que queria experimentar usa-las, mas tinha algum receio, por isso pesquisei imenso, li bastantes artigos, analisei receitas... em fim, certifiquei-me que não iria fazer asneira e pôr o pessoal aqui de casa a abraçar a barriga, eheheh.  
Quando a Wikipédia me fala em " glicosideo de cianeto" todo o cuidado é pouco! Porém são muitos mais os beneficios desta planta que os seus perigos, é apenas preciso fazer dela uso correto. Se os antigos lhe chamavam "guardião da saúde" eu acredito na sua sabedoria, mas aqui vamos falar de gastronomia e não de medicina, deixo isso para os entendidos em "remédios", porém se fizer bem à saúde tanto melhor.




Decidi fazer um 1.º lugar o concentrado ou xarope de flor de sabugueiro, também conhecido por cordial. A maioria das receitas concordam nos ingredientes, mas diferem nas quantidades e tempo de maceração; foi-me difícil decidir qual fazer, além disso desagradava-me a ideia de ter que usar ácido-cítrico num produto caseiro. Até que descobri uma receita do Jamie Oliver que não o levava,  no blog  Lottei+Doof. Confio  no bom gosto  e experiência do Jamie, por isso a escolha estava feita.



O que aprendi entretanto e que não quero esquecer:

  • As flores devem ser apanhadas num dia de sol e se possível de vários sabugueiros, para se obter uma mistura de aromas e açucares;
  • Devem preferir-se flores jovens, acabadas de desabrochar;
  • Não podem ser lavadas, estendem-se numa bancada e separam-se dos pedúnculos verdes e limpam-se de algum pequeno inseto que possam ter;
  • Na execução do cordial as flores devem ser recém colhidas, o mais frescas possível;
  • O cordial pode ser feito só com limão ou com mistura de citrinos;
  • Se quisermos usar as flores para infusão têm que se deixar secar primeiro;
  • Podem ser usadas frescas em refrescos com sumo de limão e mel;
  • Podem ser fritas com um polme e polvilhadas com canela (vou fazer isto em breve);
  • As flores também podem ser usadas para aromatizar vinagres, doces e mel.

Ingredientes:

20 flores de sabugueiro (umbelas ou cabeças);
1,5 kg de açúcar;
1,5 l de água mineral;
2 limões grandes;
2 laranjas.


A mandolina da Borner mais uma vez facilitou-me imenso a trabalho e cortou num instante todos os citrinos em rodelas.


Execução:

Separe as pequenas flores das hastes.
Corte as laranjas e os limões em rodelas.
Leve a água a ferver com o açúcar até que este se dissolva completamente. 
Num recipiente grande coloque as rodelas dos citrinos e as flores em camadas, verta sobre estes o xarope de açúcar morno.
Tape com um pano e  deixe em infusão durante 24 horas, mexendo um vez por outra. 
No dia seguinte coe o xarope e guarde em frascos ou garrafas esterilizadas.
Está pronto a ser usado em refrescos, gelados, bolos, cocktails, etc.







O refresco faz-se diluindo 1 colher de sopa de cordial numa chávena de água fresca (ou água com gás), claro que a concentração depende muito do gosto pessoal. Juntam-se pedras de gelo, pode decorar-se com rodelas de limão e flores.
Cá em casa todos gostaram imenso. 
Não me importava que o sabor fosse um pouco mais forte, vou certamente repetir usando mais flores e juntando açúcar amarelo para obter uma cor mais acentuada.



Nestes dias de verão antecipado, sabe mesmo bem beber um pouco de primavera!

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Rosas Cristalizadas

Ela é pura, pura, singela e imensamente bela!
Ele morre de ciúmes dela, custa-lhe imenso deixa-la pela tardinha para apenas a voltar a ver ao amanhecer. Sabe que a madruga lhe trás um amante, sabe que é nos braços dele que ela dorme.
Mal a acorda ainda encontra nela a presença do rival, porém ela está sempre ainda mais linda!
O Sol sabe que o Orvalho também a ama e cuida dela durante a sua ausência e por isso, mas é para ele que a Rosa sorri.


Maio, doce Maio, mês das rosas! Gosto tanto de rosas e não tenho no meu jardim, bem tenho umas semi bravas que semeou o vento ou os passarinhos! Não faz mal, os vizinhos têm, vejo-as por todo o lado e dá-me um enorme prazer só de as olhar!
Há uma espécie, não sei o nome, que tem um perfume maravilhoso, mergulho nelas o nariz e fico assim deleitada no encanto do seu aroma, tão bom! Está uma na foto abaixo,  é a cor de rosa mais vivo.



Já experimentaram comer rosas? 
Elas fazem parte da lista de flores comestíveis, mas só poderão ser comidas se forem biológicas, mas isso por aqui não é problema, os meus vizinhos e amigos não deitam veneno nas rosas, são puras. Tenho que agradecer a várias pessoas que me ofereceram rosas para este post, muito obrigada Silvina, Fátima e Augusta.
Gosto de usar flores em algumas situações, mas é preciso ser cuidadoso saber quais as que são comestíveis e se foram cultivadas de forma biológica. Convém ainda não colher as que crescem junto de estradas muito movimentadas, pois absorvem a poluição do ambiente.


São muitas as flores que se podem usar em culinária, dão colorido e requinte a qualquer prato, mas confesso que em termos de sabor... não acho nada de especial mas ainda me faltam provar muitas!
No ano passado, por esta altura, experimentei cristalizar pétalas de rosa, adorei o resultado. Fiz algumas fotos mas não cheguei a publicar nada, comemo-las como se fossem rebuçados! 
Este ano resolvi repetir usando pétalas e rosas bem pequeninas, pequenas miniaturas que são de uma enorme beleza e prestam-se mesmo bem para utilizar com esta técnica.




Na verdade as imagens quase falam por si, não seria preciso muito mais!
Clara de ovo, açúcar e alguma dose de paciência. Apenas isso, tão simples.



As flores, nesta caso rosas, devem ser muito frescas, de preferência acabadas de colher.
As pétalas mais espessas são melhores, as do interior da rosa, sendo muito delicadas com o peso da clara o do açúcar perdem a forma e não ficam tão bonitas.
Mergulham-se em água fria para as lavar, depois enxugam-se sobre papel absorvente. Têm que ficar bem secas.



Ingredientes:

1 clara de ovo;
açúcar q.b.
pétalas de rosa  e/ou botões pequeninos de rosas.



Execução:

Retire com cuidado as pétalas de rosa, procure que fiquem inteiras, sem rasgar.

Pincele-as com a clara de ovo de ambos os lados.



Usando um coador salpique as pétalas com açúcar nas duas faces.
Os botões de rosa podem ser mergulhados na clara, depois devem-se sacudir para remover o excesso. Abra-lhes um pouco as pétalas e  pincele o interior.
Polvilhe com o açúcar, usando preferencialmente um coador. Certifique-se que o cobriu bem todas as partes.




Se houver algum espaço ao qual o açúcar não aderiu é porque não tem "cola" (clara), basta pincelar novamente nesse sítio e voltar a salpicar com açúcar.
Pouse sobre papel vegetal e deixe secar ao ar durante 24 horas.
Vire as pétalas e rode os botões de rosa, descolando-os do papel vegetal cuidadosamente e deixe secar novamente. Caso o papel vegetal esteja muito húmido troque-o por outro.
Depois de bem secas e firmes pode guardar as flores cristalizadas em frascos herméticos.
Conservam-se por vários dias, no caso das pétalas duram semanas, embora com o passar do tempo a cor se desvaneça.



 Estas fotos foram tiradas logo após a execução.



Nas fotos seguintes as rosinhas e as pétalas já estão completamente secas e prontas a usar. Podem ser consumidas assim, como se fossem um belo rebuçado, ou usadas na decoração de pastelaria.





 Ficam lindas dentro dos frasquinhos, um mimo tão bonito para oferecer.




Fiquei cheia de pena de não me ter lembrado de cristalizar os lilases, agora já não há!
Vou tentar arranjar amores perfeitos e violetas, mas é mais difícil conseguir que sejam biológicas, livres de inseticidas, adubos e demais produtos químicos. Ideal, ideal seria cultiva-las!



As rosinhas de "S. Teresinha" prestam-se mesmo bem, mas há muitas outras flores que poderão usar.
Acho muito mais bonitas que as flores de açúcar de compra.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Pão Campestre com Alheira e Queijo

Ela fora feita com uma costela dele! Não seria propriamente uma costela, é mais acertado dizer que tinha dele o miolo, a sua parte mais suave e delicada. Isso fazia deles um par muito especial e não pensem que por partilharem algo tão intimo se tornavam semelhantes, nada disso, pelo contrário! Completavam-se na perfeição, por isso na vida caminhavam sempre de mão dada.



O pão continua a ser uma aventura, uma constante descoberta!
Adoro experimentar novas combinações, novas farinhas,  fazê-lo simples ou recheado... bem, de preferência recheado, eheheh!
Ao fim de semana, aqui em casa, todos esperam por um pãozinho morno e cheio de boas promessas.
As alheiras que recebi vindas de Trás-os-Montes cheiravam bem ainda dentro da embalagem! Depois de pensar e repensar como as usaria não resisti ao apelo do pão. Bem sei que o pão é um dos ingredientes que as compõem e parece redundante voltar a usa-las com pão, mas a verdade é que pão e alheira é um casamento perfeito!




O Fumeiro d'Avó Maria, situa-se em Sabade - Alfandega da Fé. A D. Lurdes confeciona, de forma artesanal, produtos regionais mantendo a tradição e sabor que lhes são tão carateristicos. Teve a gentileza de me oferecer alguns para que experimentasse. As alheiras são deliciosas, verdadeiramente irresistiveis! Fiz questão  de as  grelhar na brasa e assim manter o costume transmontano.
Há muito tempo que não comia uma alheira tão boa! 
Fazem o envio dos produtos para  todo o pais e até para o estrangeiro, bastando uma mensagem para a sua página no  Facebook, não deixem de experimentar.


Gosto especialmente de alheira com broa, broa de milho e centeio, mas como já há aqui no blog algumas receitas com esse tipo de  broa, optei por uma fazer uma versão um pouco diferente, com farinha de trigo e centeio. Decidi dar-lhe um novo visual, um pão com ar de "festa"!
Tentei que fosse um "pullapart bread", traduzido à letra como "pão para puxar" ou "tirar aos pedaços", havendo dentro de cada pedacinho um pouco de recheio Só que com este tipo de massa não resulta, ao levedar fica tudo muito "colado", não se separa como no pão de trigo. Decidi reformular a receita e rechea-lo em camadas.
As fotos são da 1.ª tentativa, por isso são visiveis as "bolinhas".


Pão Campestre com Alheira e Queijo

Ingredientes:

Pão

250 g de farinha de centeio;
300 g de farinha de trigo T65;
2 ovos M;
300 ml de leite;
1 colher de sopa de azeite;
1 colher de chá de açucar;
6 g de sal;
1 saqueta de fermento de padeiro Fermipan (11g).

Recheio

1 alheira grelhada "Fumeiro da Avó Maria" com 300g;
200 g de queijo flamengo "Cavado - Laticinios das Marinhas";
1  chavena de manjericão fresco;
2 dentes de alho;
2 colheres de sopa de azeite;
tomates mimi chucha q.b.


Execução na máquina de fazer pão:

Coloque o leite tépido, os ovos ligueiramente batidos, o azeite, o açúcar e o sal na cuba da máquina.
Sobreponha as farinhas previamente peneiradas.
Adicione por último o fermento.
Selecione o programa "Massa" e deixe decorrer até ao final.
Retire a pele à alheira grelhada e esfarele.
Corte o queijo em cubos.
Pique o manjericão e o alho, junte ao azeite e misture.
Corte os tomates em metades.
Unte uma forma com um pouco de azeite e salpique com sêmola de milho ou farinha.
Divida a massa de pão em 3 partes iguais.
Coloque a 1.ª parte no fundo da forma e disponha uma camada de alheira, queijo e regue  com 1/3 do molho de mangericão.
Sobreponha a 2ª parte de massa e repeta a distribuição do recheio e molho.
Finalize formando, com a 3.ª parte da massa, pequenas bolas na quais de coloca pedaços de queijo.
Disponha na forma entremeando mais queijo, tomate  e salpicando com o restante molho.
Deixar levedar durante 1 hora num local aquecido.
Leve ao forno, pre-aquecido a 200.º C, durante 35 a 40 minutos.
Retire, deixar arrefecer um pouco.
Desenforme e coloque sobre uma grade até terminar de arrefecer.
Serva decorado com ramos de manjericão e alguns tomates cortados.


Execução tradicional:

Desfaça o fermento num pouco de leite morno com o açucar.
Peneire e misture as farinhas com o sal.
Abra uma cova ao centro das farinhas, junte o leite, os ovos (ligeiramente batidos) e o fermento.
Incorpore a farinha e amasse um pouco.
Deixe levedar durante 1 hora.
Retire a pele à alheira grelhada e esfarele.
Corte o queijo em cubos.
Pique o manjericão e o alho, junte ao azeite e misture.
Corte os tomates em metades.
Unte uma forma com um pouco de azeite e salpique com sêmola de milho ou farinha.
Divida a massa de pão em 3 partes iguais.
Coloque a 1.ª parte no fundo da forma e disponha uma camada de alheira, queijo e regue  com 1/3 do molho de manjericão.
Sobreponha a 2ª parte de massa e repeta a distribuição do recheio e molho.
Finalize formando, com a 3.ª parte da massa, pequenas bolas na quais de coloca pedaços de queijo.
Disponha na forma entremeando mais queijo, tomate  e salpicando com o restante molho.
Deixar levedar durante 1 hora num local aquecido.
Leve ao forno, pre-aquecido a 200.º C, durante 35 a 40 minutos.
Retire, deixar arrefecer um pouco.
Desenforme e coloque sobre uma grade até terminar de arrefecer.
Serva decorado com ramos de manjericão e alguns tomates cortados.


Um pão muito generoso e delicioso, que já fiz 2 vezes e que estou mortinha por repetir!

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Scones de Queijo e Agrião com Picante

Domingo vestiu-se depressa na ânsia de sair, queria encontrar-se com o compincha Mar.
Já calçava os sapatos, quando, de repente e sem ser convidada, apareceu a menina Chuva e ele viu subitamente o seu plano mudar! 
Não querendo se indelicado e fazer a desfeita de a mandar embora, lá se conformou, sentaram-se calmamente no sofá. A Chuva veio para ficar, tagarela, não se calou nem por um instante, tinha sempre tanto que contar!



Ultimamente parece que chove sempre aos fins de semana! 
O desejado passeio à beira mar fica sem efeito, não há conversa fiada na esplanada, só apetece o calor da lareira a arder (sim, sim acendi a lareira), o aconchego do sofá e o cheirinho de um prazer morno, acabadinho de sair do forno!


Nem sempre esse prazer pode ser doce, nem precisa, estes scones salgadinhos e com um toque picante são um bom consolo.
Estão cheios de bons ingredientes, que sabem e fazem bem. 



Ingredientes:


80 g de agriões;

100 g de queijo ralado, "Serra da Vila" - Saloio;
200 g de farinha de trigo;
50 g de farinha de trigo sarraceno;
50 g de manteiga (gelada);
150 ml de leite;
1 colher de chá de sumo de limão;
pimenta preta q.b.
1 colher de sopa de sementes de sésamo;
colorau picante q.b.


Produtos de parceiros usados: queijo "Serra da Vila" da Saloio; farinha de trigo sarraceno  Myprotein; sementes de sésamo branco Sementina.


Execução:

Misture o sumo de limão com o leite e deixe repousar uns minutos.
Pique os agriões miudinhos.
Corte a manteiga em cubos pequeninos.
Coloque a farinha numa taça, tempere com o sal e a pimenta preta.
Usando as pontas dos dedos esfarele a manteiga na farinha.
Abra uma cova ao centro e acrescente o leite e o queijo ralado.
Misture, envolvendo os ingredientes, mas sem bater a massa, apenas o suficiente para que fiquem ligados.
Forme um disco sobre uma bancada previamente enfarinhada e usando um aro corte os scones.
Coloque num tabuleiro untado, ou sobre papel vegetal.
Pincele os scones com um pouco de leite.
Misture o colorau picante com as sementes de sésamo e espalhe sobre os scones.
Leve ao forno, pré-aquecido a 180.º C, durante cerca de 20 minutos, ou até dourarem.




Estes scones são mesmo bons, nota-se bem o sabor dos agriões e do queijo.
Podem ser servidos simples, ou recheados. Não resisti a experimentar com o queijo fresco em creme "Cool light da Saloio", ficou verdadeiramente irresistível.
A cobertura um pouco picante combina aqui na perfeição e as sementes de sésamo atrasem-lhes um toque crocante.
Claro que o picante é opcional, se não gostar omita-o.



São bons para qualquer ocasião: sirva-os ao lanche; faça-os mais pequeninos podem ser uma entrada diferente, junte uma  fatia de presunto ao queijo fresco ou até um pouco de salmão fumado;  são ainda ideais para um piquenique (estou desejosa de sair para piquenicar). 
Não faltarão bons motivos para os experimentar.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Arroz Doce Cremoso

- O melhor é o da minha mãe!
- Não, não! O melhor é o da minha avó.
- Qual quê!? Toda a gente diz que o melhor é o da minha cunhada!
- Não quero discutir, mas o melhor é o da minha sogra.
- Vocês dizem isso porque ainda não provaram o da minha vizinha, esse é o melhor de todos!
- Ora essa! Que mania a vossa... o melhor de todos é o meu!


É verdade, não é? 
Quando se fala em "Arroz Doce", toda a gente sabe quem faz (ou fazia) o melhor!
Lembro-me de ser uma garota e de ir com o meu pai a casa da mãe de um amigo, parece que ainda ouço o senhor a descrever o arroz doce que a mãe dele fazia, era o melhor do mundo! Estava desejosa de o provar, tanto que foi gabado durante a viagem. O aspeto era delicioso, bem amarelinho, pintado com as gemas das galinhas, que alegres corriam soltas pelo quinteiro. À primeira colherada a surpresa foi total! Os bagos de arroz estalavam ao trincar, o arroz estava "al dente", achei aquilo horrível! Menina bem educada, comi todo o arroz e ainda tive que me esquivar para não ter que repetir a dose!



O melhor para mim era o que a minha mãe fazia. Recordo aquele arrroz envolto num creme aveludado, doce, delicioso! Nunca me preocupei em aprender a fazê-lo porque essa era a especialidade dela, grande erro! Hoje tenho o cuidado de procurar aprender o mais possivel com está está na disposição de me ensinar e regsito tudo em detalhe.
Existem uma infinidade de receitas para este doce tão típico e todas diferentes. Os ingredientes vão sendo similares, mas mudam as quantidades, a forma de execução e o resultado, claro que também é diferente. São todos bons, dependendo do gosto de cada um. Há quem o aprecie bem espesso, com o bago firme, pode-se cortar à faca. Há quem goste dele muito cremoso, com o bago semi desfeito. Há quem goste dele imensamente doce, com o dobro do peso do açúcar em relação à quantidade de arroz. Há ainda, quem goste de o temperar com uma generosa quantidade de manteiga. Há até quem depois de pronto o meta no forno para tostar! Depois há as versões já mais modernas que lhe juntam leite condensado, chocolate, doce de ovos, frutas, merengue... uma infinidade de possibilidades.



Durante anos decidi não fazer "Arroz Doce", simplesmente não me sentia capaz!
Antes disso tentei muitas vezes, com diferentes receitas, recordo-me de uma até levava maizena para o "obrigar" a ficar cremoso, mas nunca consegui chegar aquele tão especial e de que tanto gosto, por isso convenci-me que não era capaz!



Há algum tempo atrás, deliciei-me com um pires de arroz doce cremoso, em casa da  minha amiga Clarisse. Ela teve a gentileza de me dar a receita e explicou-me todos os passos! Entusiasmei-me e tentei... mais um desastre, consegui talhar o arroz doce, o que não é coisa para todos! Apesar desse desaire ficou perto do que eu queria. O meu filho disse que tinha um textura engraçada e estava muito bom, ahahah! Não desisti, e dediquei-me a estudar melhor o assunto! 
Certo dia..."Eureka" fez-se luz, descobri finalmente o que me escapava! Esteve o tempo todo bem na frente dos meus olhos, mas a pressa não me deixava enxergar! 
Qual era a minha dificuldade? 
Não esperar o tempo necessário, não mexer pacientemente durante 1 hora o arroz. Eu achava que mal estava cozido já chegava, estava pronto, por isso umas vezes ficava muito espesso e outras líquido e sem piada nenhuma. Andava focada nas quantidades de arroz, leite, ovos (que também são importantes) e escapava-me o principal... tempo e paciência, num lento  e repetitivo mexer a panela! As receitas descrevem os diferentes passos, mas não referem o tempo que deve decorrer entre cada uma das etapas! 
Já sei o que estão a pensar... eu precisava de um desenho, ahahah!



Depois de ter conseguido, finalmente, um bom resultado na confeção do tão desejado arroz, resolvi experimentar usar a MFP. Desaparece a parte chata da receita e fico livre para ir fazendo outras coisas. Fiquei muito satisfeita com o resultado, mas o bago desfez-se mais, mas ganhou em cremosidade.
Faltava conseguir o sabor especial de outros tempos, procurei restituir ao leite o que lhe foi tirado (a nata e a manteiga) e arranjei ovos caseiros. 




Arroz Doce Cremoso

Ingredientes:


200g de arroz carolino IGP da Orivarzea;
500 ml de água;
casca de 1/2 limão (4 tiras);
2 paus de canela;
1/8 de colher de essencia de baunilha (opcional);
1 pitada de sal;
1,5 l de leite meio gordo (ou gordo);
200 g de açúcar;
2 colheres de sopa de manteiga;
4 colheres de sopa de nata*;
6 gemas;
canela em pó q.b.

* Caso use leite gordo pode reduzir a nata para metade ou até eliminar.


Execução na MDP:


Aqueça a água e verta-a na cuba da máquina. Selecione o programa "Doces", (na minha máquina é o número 11 e dura 1.20 h).

Retire, com um descascador, a casca do limão e junte-a à água, com os paus de canela e a baunilha (opcional).
Quando as pás começarem a girar acrescente o arroz. Deixe cozinhar até que toda a água seja absorvida.
Junte o leite aquecido com a nata e a manteiga. Deixe correr o programa até as pás deixarem de mexer (na minha máquina param a 20 minutos do final do programa). Desligue a máquina.
Volte a selecionar o mesmo programa. Junte o açúcar e retire as cascas de limão e os paus de canela.
Volte a ligar a máquina e deixe correr de novo o programa. Quando as pás voltarem a parar, retire uma concha de arroz e misture-o bem com as gemas, adicione esta mistura  ao restante arroz. Uma vez que as pás não vão voltar a mexer faço-o cuidadosamente à mão, de forma a envolver bem as gemas.
Feche a tampa e deixe ficar durante 3 minutos, para que as gemas cozinhem.
Desligue a máquina.
Retire a cuba, verta o arroz em travessas, pratos ou tigelas.
Espere que arrefeça um pouco e decore a gosto com canela em pó.

Notas:
  • Demora cerca de 2 horas, como a temperatura é mais baixa que no fogão, o bago do arroz vai-se desfazendo um pouco mas não totalmente, largando no processo toda a sua goma. O tipo de arroz usado também tem influencia, escolha um bom arroz carolino, que tem o bago mais firme;
  • É necessário prestar atenção no início para ver quando a água já foi absorvida e logo de seguida juntar o leite;
  • O leite não atinge a temperatura de ebulição e por isso não sobe, não há risco de verter para fora da cuba. Porém verifique a capacidade da cuba da sua máquina, não são todas iguais. O nivel do leite tem que ficar cerca de 2 dedos abaixo do bordo da cuba, o movimento das pás provoca oscilação e se ficar muito cheio pode entornar. Adicione todo o leite de uma vez, caso contrário vai oscilar muito e salpicar por fora.
  • O programa é acionado por 2 vezes, mas não até ao final, finda 1 hora é desliagado, para ser recomeçado.  Decorrida mais 1 hora tem que ser parado manualmente.
  • Se usar leite inteiro pode dispensar parte da nata, mas não elimine a manteiga pois aporta sabor e cremosidade.


Execução tradicional:

Leve a água ao lume com as cascas do limão, os paus de canela e umas gotas de essência de baunilha, até levantar fervura.
Junte o arroz e deixe cozer, em lume brando, até toda a água ser absorvida. Mexa regularmente.
Ferva o leite juntamente com a manteiga e a nata.
Assim que o arroz ficar sem água visível comece a juntar o leite e mexa bem. 
A temperatura do fogão deve ser baixa, é uma cozedura lenta. 
Vá juntando o leite aos poucos e mexa bem num ritmo vagaroso, mas sem parar. Repita o processo até esgotar o leite, o que deve demorar cerca de 25 minutos.
Adicione o açúcar e continue a mexer mais uns 15 minutos.
Retire do lume, extraia as cascas de limão e os paus de canela.
Coloque as gemas numa tigela, bata-as ligeiramente com um garfo.
Junte uma concha de arroz às gemas e mexa bem.
Adicione as gemas desfeitas no arroz ao tacho e mexa até estar misturado.
Volte a levar ao lume, mexendo sem parar durante 3 minutos.
Verta o arroz doce me travessas, pratos ou tigelas.
Deixe arrefecer e decore com canela em pó a gosto.

Nota: Todo o processo deve demorar cerca de 1 hora.


Aqui está tudo revelado, não há segredos, este é um doce do tempo em que não havia pressa! O maior segredo era o tempo e a paciência de mexer lentamente, em lume brando o arroz. Demora, da forma tradicional, cerca de 1 hora, mas vale bem a pena. 
Na MDF demora o dobro do tempo, mas podemos fazer outras tarefas na cozinha, porém o arroz fica mais desfeito. 
Quem tem a Bimby, ou similares, também as pode usar, encontra por ai muitas receitas. 
Vivemos num tempo de "pressas" por isso podemos socorrer-nos do que as novas tecnologias têm para nos oferecer.
Este post está enorme, ninguém tem tempo, nem paciência, para o ler mas eu gostei imenso de o fazer. Mostra como finalmente mudei um "não sou capaz" para um "eu consigo"!
Espero que possa ajudar alguém a sentir-se da mesma maneira.